Nuno Pinto de Magalhães conta já com mais de 45 anos ao serviço da Central de Cervejas, ao longo dos quais passou, praticamente, por todas as áreas da empresa. Uma carreira com diversas curiosidades, tendo colaborado com 18 CEO’s, dos 19, que a empresa teve ao longo da sua história, e 6 accionistas.
Proveniente de uma família onde havia Diplomatas, Nuno Pinto de Magalhães estava talhado para trilhar também ele esse caminho. Porém, as circunstâncias da vida apontaram-lhe a via empresarial, onde, em bom rigor, sempre foi, a par de Líder, um verdadeiro Diplomata Económico. O seu savoir faire e a forma entusiasta e rigorosa com que fala das marcas e do grupo empresarial que representa, a par da sua entrega a causas sociais e de solidariedade, contribuem para a pessoa realizada que se nos apresenta.
Assumindo várias dimensões que a DO it! considera críticas para o sucesso, tais como a dedicação, a paixão por servir e a capacidade de fazer acontecer, Nuno Pinto de Magalhães e a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas formam uma dupla digna de destaque. Generoso e dedicado como é, Nuno Pinto de Magalhães aceitou o convite da DO it! para esta entrevista exclusiva, com a condição de que, em primeiro lugar, teríamos de falar da empresa e dos produtos dos quais tem tanto prazer em falar e que, ao fim e ao cabo, têm definido a sua carreira profissional.
DO it!: A Central de Cervejas remete-nos imediatamente para marcas líderes como Sagres e Luso, e para toda a inovação que lhes é inerente. Como estão a correr?
NPM: Em primeiro lugar é bom recordar que, apesar de termos o privilegio de pertencer, desde 2008, ao Grupo internacional cervejeiro- HEINEKEN – a Central de Cervejas remete-nos para a portugalidade e para marcas portuguesas. Luso é sinónimo de português e Sagres tem toda a sua componente cromática e packaging ligados a Portugal e ao que somos como portugueses. O facto de ter as quinas no rótulo, e de Sagres ser uma localidade ligada aos Descobrimentos e grandes feitos marítimos dos Portugueses no séc. XV e a um mundo global, são a prova disso. Considerando que o que interessa são as perceções dos , estes reconhecem, claramente, o ADN da portugalidade nas nossas marcas.
Quanto à inovação ela é para nós um fator que está integra o nosso ADN, assumindo-se como determinante para o nosso crescimento e diferenciação no mercado. Seja nas águas, cervejas ou sidras, a inovação é permanente!
A alma portuguesa das nossas marcas ultrapassa as nossas fronteiras. Ela está presente em tudo o que é a diáspora portuguesa e os países de língua portuguesa, assumindo-se como uma arma da nossa língua e da nossa cultura. É bom recordar que a Luso é uma marca quase bi- centenária e que a Sagres nasceu nos anos 40. Sendo estas as marcas que têm um papel mais importante no nosso portefólio, é porém bom recordar que a marca de cerveja Heineken tem estado sempre a crescer, liderando já as vendas no setor premium, em Portugal . Trata-se de uma marca com forte presença e aceitação em todas as partes do mundo, é uma marca universal ! Sabemos que cada segmento de consumidores pretende coisas diferentes e é isso a que pretendemos responder, com marcas/produtos diferentes.
DO it!: Um facto que se destaca no vosso desempenho é que mesmo nos períodos economicamente menos favoráveis a SCC não parou de inovar, nomeadamente através da extensão da gama da Luso com sabores.
NPM: Ainda bem que fala nesse exemplo dando-me a oportunidade de esclarecer que a Luso Fruta não é propriamente uma água com sabores, na percepção que o mercado tem desta categoria…, mas antes de falarmos da Luso Fruta falemos da “sua mãe” a água de Luso!
A água de Luso é uma água mineral natural, da região protegida do Bussaco, de captação profunda e que nós embalamos, como produto alimentar, tal como é captada da natureza. Uma água que pode ser consumida por todos, sem qualquer restrição, quer de idade, quer de saúde, antes pelo contrário. De facto as águas são todas iguais na cor e no cheiro, mas não no sabor e essa é que é a grande riqueza geológica de Portugal, e a água de luso distingue-se!
A água da Luso é a marca líder do segmento e tem saciado gerações sucessivas de Portugueses.
Ouvindo e respondendo as expectativas dos consumidores e atentos ás tendências do mercado, lançámos em 2011 uma categoria nova – água com sumo de fruta – a qual em Portugal ainda não está completamente enquadrada em termos jurídicos, pois está ainda classificada como refrigerante. Lusa Fruta que não tem corantes, edulcorantes nem conservantes, é engarrafada numa linha asséptica, e não tem edulcorantes, só tem o açúcar natural da fruta.
Por tudo isso, a Luso Fruta foi isentada do imposto sobre o açúcar, tendo sido aprovada também pelo Ministério da Educação como produto a promover nas cantinas escolares.
DO it!: Temos verificado que as vossas marcas estão atentas ao crescimento da prática desportiva, nomeadamente através do apoio às Seleções Nacionais de Futebol pela Sagres e, recentemente, ao running, através da Luso
NPM: Sim, faz parte do nosso posicionamento, com a marca Luso, apoiar iniciativas onde a hidratação e o estilo de vida saudável é importante. Firmámos com o Maratona Clube de Portugal o apoio às provas que estes promovem, com o exclusivo na categoria das águas. Neste âmbito, temos também duas corridas com o nosso naming –Luso Meia Maratona e Luso 7K. Este apoio complementa a parceria que já tínhamos da marca com a Federação Portuguesa de Atletismo.
DO it!: Surpreendeu-nos, há pouco tempo, a realização de uma corrida em Lisboa, onde no final se oferecia um copo de cerveja aos atletas – Corrida Beer Runners. Tratou-se de um episódio pontual ou é uma tendência?
NPM: Esse evento foi promovido pelos Cervejeiros de Portugal, do qual fazemos parte, e esse tipo de iniciativa em que se oferece cerveja no final da corrida, com álcool ou sem álcool, já existe há muito tempo noutros países, nomeadamente em Espanha, sendo uma iniciativa promovida pelos Cervejeiros Europeus.
Aproveito o tema para referir as cervejas 0.0, cujo lançamento iniciámos este ano, com 3 marcas, a Heineken 0.0, a Sagres 0.0 e a Sagres Radler 0.0.
Há muito tempo que já existiam cervejas sem álcool em Portugal, mas elas eram sempre bebidas “pela negativa”, como por exemplo porque se ía conduzir ou porque se estava a tomar medicamentos. Até aqui as cervejas sem álcool “tradicionais” poderiam ter de acordo com a actual legislação Portuguesa até 0,5 teor alcoólico.
Atento ás expectativas dos consumidores, onde as bebidas alcoólicas apresentam uma certa queda de consumo, à preocupação crescente do estilo de vida saudável e de o consumidor gostar, cada vez mais, de experimentar produtos novos, lançámos este ano, em Portugal, com o apoio do grupo HEINEKEN, as 0.0, que para além não ter álcool nenhum, têm menos calorias entre os 40 e os 50% face ás standards. Temos uma nova categoria, que pode ser consumida em qualquer ocasião, na opção do consumidor e com uma cerveja cujas características de sabor, cor e cheiro são idênticas a uma cerveja com álcool. Sendo a experimentação uma condição fundamental para este efeito, promovemos um leque diversificado de iniciativas de degustação, tendo o mercado reagido positivamente e apresentando crescimentos na categoria na ordem dos 30% ,à data tem vindo a crescer 2 dígitos.
Propusemos e promovemos nas grande Distribuição a “ Zona Zero” onde todos estes produtos, com estas características podem ser encontrados.
DO it!: E quanto ao mercado das cervejas artesanais? E a sustentabilidade das embalagens? E os factores críticos de sucesso?
NPM: Bem vindas as cervejas artesanais, que falam e promovem a diversidade da cultura cervejeira.
Elas são uma tendência mundial e um segmento que está ativo.
O que diferencia principalmente uma cerveja artesanal de outra não artesanal, é que nestas últimas há uma estabilidade das suas características e uma maior escala de produção, quanto aos ingredientes ambas são 100% naturais.
Como se sabe, Portugal tem sido um mercado marcado por 2 marcas tipologia lager.. Os consumidores estavam ansiosos e receptivos por novidades, nomeadamente por tipologia de cervejas que se pudessem associar a diferentes momentos de consumo. Tendo reconhecido que era importante estar também nesse mercado, temos uma empresa no nosso Grupo, a Hoppy House Brewing que tem marcas artesanais, através do resultado de parcerias de produção com unidades artesanais. É o caso da Topázio, da Ónix e das Trindade de diversos tipos, sendo que iremos ter uma unidade de produção em Lisboa , em breve. Temos também no nosso portefólio uma artesanal dos EUA, a Lagunitas.
Nos últimos 5 anos a SCC investiu 140 milhões de euros em modernização e novos equipamentos e cresceu em numero de colaboradores. Somos hoje no grupo SCC cerca de 1800. Temos investido em novos equipamentos e soluções cada vez mais sustentáveis, energias alternativas e que fomentem a sustentabilidade. Adquirimos também este ano a Água Castello, uma marca centenária de água icónica, proveniente de Moura, no Alentejo.!
Todas as embalagens que utilizamos, sejam de plástico ou de vidro, são recicláveis. Costumo dizer que nunca vi uma garrafa “ter perninhas e andar na praia a caminho do mar…..” Se lá está é porque alguém a transportou… Se as embalagens forem colocadas nos ecopontos respectivos, todas serão recicladas e farão parte da economia circular. Também temos preocupação máxima, no ecodesign das embalagens e a utilização de materiais ecológicos, a par da incorporação de pet reciclado e redução de pet usado.
Turismo, Nível de Confiança dos Consumidores e Condições Climatéricas, foram os factores determinantes para os resultados da performance da Companhia nos últimos anos!
DO it!: Falemos agora de si. O que o Nuno faz sua função, não é muito comum nas outras empresas?
NPM: A minha função é comum à de Comunicação e Relações Institucionais de outras empresas. O que muda as características do meu papel é a minha história na Companhia e as minhas vivencias! Já passei pelos RH, Marketing, Vendas, Logística, etc. Só não estive na área da Produção e na Financeira. Construí a minha carreira, degrau a degrau….. Ter estado 45 anos nesta empresa e conhecido tanta gente, em contextos tão diversificados é que contribuíram para o meu atual perfil profissional e pessoal!
DO it!: O que recorda com saudade? O que foi mais estimulante?
NPM: Todas as épocas tiveram coisas ótimas, estimulantes e aprendi com todas elas. Mais do que saudade, sinto gratidão. Sou uma pessoa grata por tudo aquilo que esta empresa me proporcionou.
DO it!: Quais são os seus desafios na sua atual função?
NPM: O meu grande desafio é preparar o futuro da área em que sou atualmente responsável!
DO it!: O Nuno não esgota a sua energia e atividade na SCC.
NPM: O meu pai dizia algo muito engraçado: quando queres que alguém faça alguma coisa, pede ao mais ocupado. Isto leva a que eu tenha várias funções em vários sítios, graças à confiança de várias pessoas e pares. Sou, entre outras, Presidente da Câmara de Comércio Portugal Holanda; da Entidade que regula a publicidade, Auto Regulação Publicitária e administrador da Sociedade Ponto Verde.
DO it!: Como se gere isso tudo?
NPM: Tento programar-me e organizar-me. Por outro lado existe também a compreensão e apoio do empresa nestes diversos papéis que desempenho….
DO it!: Assume também atividades de voluntariado. Confirma a ideia de que quem faz voluntariado é mais feliz?
NPM: Eu sou feliz, mas considero que o mais importante é fazermos os outros felizes através do nosso voluntariado. Senão seriamos apenas egocêntricos.
DO it!: Pela sua experiência de trabalho com tanta gente, quais são as características que mais valoriza nas pessoas?
NPM: Consistência, sinceridade e lealdade, o que não significa estarmos sempre de acordo. Gosto de pessoas que gostem de relacionar-se. Nós não nascemos para viver sozinhos ou isolados.
DO it!: Pertence a uma geração de pessoas que tem uma grande inteligência social. Como se faz o match com a geração da inteligência digital?
NPM: A diversidade e a variedade não excluem a experiência, nem o discernimento. Na SCC temos o bom exemplo do equilíbrio entre as diversas sensibilidades, experiencias e gerações de colaboradores, cujo o out put final seja o retrato equilibrado que representam os diversos segmentos de consumidores dos nossas marcas e produtos, para quem comunicamos. A realidade interna, deve espelhar a realidade externa.
DO it!: O que lhe falta fazer na vida?
NPM: Para mim o grande desafio é saber como me posso organizar um dia que já não esteja aqui. As coisas foram acontecendo na minha vida e continuarão certamente a acontecer…
DO it!: Gosta de viajar?
NPM: Gosto muito! As viagens inspiram-me e influenciam a minha maneira de ser. Acabei de chegar da Terra Santa. Também gostei muito de estar na Índia, onde já estive 2 vezes. Agora vou passar o final do ano ao Brasil a casa de uns amigos. Procuro passar sempre o meus anos em Londres, porque gosto imenso dos ingleses, do seu mood, das casas, do country side. De Inglaterra só não gosto do clima e agora do Brexit.
DO it!: A espiritualidade é uma tendência?
NPM: Não sei se é uma tendência, mas a espiritualidade e a fé fazem parte da minha vida.
DO it!: Há algum livro que o marcasse em particular?
NPM: Sim, por exemplo o Leopardo, do Lampedusa e o Principezinho do Saint Exupery Neste momento estou a ler a biografia do Gulbenkian. Outra coisa que gosto é de antiguidades e das suas histórias. Tenho saudades do tempo em que a descoberta era uma prerrogativa dos que estudavam e tinha conhecimento, o mundo é hoje diferente, já está tudo, ou quase tudo, descoberto e disponível no GOOGLE!
DO it!: Que conselho dá a alguém que entra no mundo do trabalho?
NPM: OUVIR, OUVIR, OUVIR, PERGUNTEM, PERGUNTEM, PERGUNTEM, TIREM NOTAS, E PONDEREM , COM DISCERNIMENTO, NO MOMENTO DA EMISSÃO DE OPINIÕES.
NÃO REJEITEM UMA CONVERSA!
PROCUREM GOSTAR DAQUILO QUE LHE PEDEM PARA FAZER
SEJAM RESILIENTES