Por: Fernanda Accorsi
Um supermercado que não compra os produtos de seus fornecedores, que não possui uma folha de empregados, que não investe em atividades de comunicação, que tampouco possui conflitos em sua cadeia de abastecimento e de Suplly Chain e que, ainda assim, está sempre cheio e com longas filas em sua porta principal. Esse supermercado sim existe e se chama WeFood – para encontrá-lo basta fazer uma visita à cidade de Copenhagem, Dinamarca.
Curioso? Pois não é para menos. Escrito tal qual mais se parece à algum business case utópico de algum professor de marketing visionário. Mas de fato o conto é real e o supermercado, desde de Fevereiro desse ano, abriu suas portas com um conceito totalmente inovador – na realidade, o negócio nasceu não apenas à partir de um conceito novo, mas também com uma ‘causa’ muito nobre. WeFood é o primero supermercado a ofertar produtos com prazos de validade vencidos, ou por vencer, aproveitando todos os alimentos (e outras categorias de produtos) que são descartados por outras cadeias de retail.
Além dos produtos com a data de validade vencida, também são enviados à WeFood produtos com embalagem danificada ou com mal aparência e que, por isso, são rejeitados por grandes cadeias de supermercados que seguem rigorosos padrões de qualidade e que, no fim de dia, acabam por descartar toneladas de alimentos. Somente na Dinamarca são 700.000 toneladas* de comida desperdiçadas/ ano, frente ao número desesperador de pessoas que passam fome pelo mundo – aproximadamente 800 milhões de pessoas.
O projeto foi lançado no verão de 2015 a partir de uma campanha de Crowdfounding, iniciada 29
por DanChurchAid (DCA), uma ONG global que trabalha no combate à pobreza, à fome e às catástrofes mundiais. Bassel Hmeidan, project manager do negócio, nos comentou que o “projeto levou aproximadamente um ano para se concretizar e que a ideia surgiu num programa de televisão sobre desperdício de comida, inspirada nas cadeias européias de supermercados de grande excedente alimentario”.
A fórmula é simples: reaproveitamento, vonluntariado e claro, um bom incentivo ecônomico no bolso dos consumidores. WeFood possui um acordo com a cadeia de supermercados dinamarquesa Føtex, que fazem a doação de seus excedentes de produtos ‘não-recomendáveis’para as vendas em suas prateleiras. Mr. Hmeidan também nos informou que 80% dos produtos vendidos em WeFood são enviados diretamente pelos seus produtores, agricultores ou mesmo pelas empresas distribuidoras e que a equipa do supermercado está trabalhando para estabelecer parcerias em toda a cadeia de abastecimento. Após negociados, a equipa de voluntários passa pelas lojas do supermercado Føtex para realizar a coleta, já deixada previamente separada pelos funcionarios dessa última.
Por fim, os consumidores são brindados com a incrível vantagem de comprar tais produtos com um desconto entre 30-70% sobre o preço de mercado, dependendo do seu estado. Quando questionado sobre o principal target do negócio, Bassel nos diz que o público é bastante diverso: estudantes, pensionistas e famílias que desejam economizar em suas compras, ou mesmo apoiadores da causa ‘contra o desperdício de comida’. Também nos disse que os itens mais procurados são as verduras, produtos de consumo diário e comida congelada – mas que como a oferta depende da doação diária, a loja não possui um portfólio fixo.
A boa notícia é que em 8 meses de funcionamento, WeFood já conseguiu salvar mais de 30 toneladas de comida, que apesar de representar ainda 0,005% do total, com certeza é uma cifra importante para seus apenas 8 meses de vida. O projeto dá continuidade ao seu crescimento e em Novembro/2016 abrirá sua segunda unidade, ainda em Copenhagem – o que já demonstra o seu sucesso como inciativa. A cadeia afirma que seus únicos meios de divulgação são sua web www.food.nu e sua Fanpage e que não investem em comunicação, mas sim, em outros trabalhos humanitários.
Vemos que a iniciativa funciona e que somos uma comunidade em busca de soluções, principalmente na cadeia de super-produção e super-consumo. A questão agora é nos perguntar se o futuro está em espalhar lojas de WeFood por todo o mundo ou conscientizar para que as próprias cadeias de retail encontrem uma solução justa para seus negócios, priorizando não somente à abertura de novas lojas mas a venda do excedente de produtos que elas comercializam hoje. Quem sabe todos juntos, conseguimos exercer pressão na cadeia produtiva e que essa reduza seus pârametros de produção que geram perdas de Bilhões de euros anuais ou que ao menos colaborem para que o excedente chegue para quem tem que chegar – esse seria um bonito projeto de resposnabilidade social.
*Source: United Against Food Waste

