POR: Fernando Batista – Diretor Executivo Tábua Digital
Ao escrever estas linhas não me encontro sentado no meu escritório, onde naturalmente seria expectável estar para a produção de conteúdos (algo que faz parte do meu dia a dia). Encontro-me sim, sentado numa área de chill out de um espaço comercial onde, ao olhar ao meu redor, parece que a vida é alheia a todo o frenesim tecnológico e digital em que Portugal se encontra.
Enquanto tento escrever apercebo-me que tenho cada vez mais tendência de escrever artigos sobre o mundo digital, empreendedorismo, marketing e redes sociais sentado em locais diferentes, que nada parecem contribuir para o pensamento necessário para dis- correr sobre um conteúdo temático deste tipo. Porém, a criatividade tem destas coisas. As ideias nem sempre aparecem no local que escolhemos ou que sentimos que seja o mais natural.
Mas hoje não escrevo sobre técnicas, métodos e metodologias, mas sim sobre um mundo diferente e paralelo: aquele em que o consumidor realmente vive.
Enquanto o criador da web, Tim Berners Lee, discursa para um pavilhão esgotado sobre a internet e como se deve lutar pela continuidade dos princípios que revolucionaram a forma como interagimos e consumimos, existe ao lado uma realidade quotidiana onde as pessoas não sabem quem ele é, nem fazem depender as suas vidas de um palestrante de renome mundial.
São vidas analógicas, que usam o digital para voyeurismo, onde o consumo é básico e que no final do dia se sentam à mesa com a família a falar do dia de trabalho e da escola. Planeiam o dia seguinte com a mesma azáfama e ritmo que sempre teve, onde se vibra pelo nascimento de uma criança, pelo resultado de uma partida de futebol, em que o personnal branding é feito através de um aperto de mão, de uma saudação de bom dia, boa tarde ou boa noite. Esta é uma realidade paralela à de muitos marketers e digi-informados.
O frenesim da partilha constante do digital branding, as encenações instagramáticas, as pseudo-entrevistas de YouTube, que no final têm de significar partilhas e likes, não faz nenhum sentido nesta realidade analógica paralela. A realidade digital está a levar-nos para o óbvio, o encenado, o plástico e inverosímil. Cada vez se torna mais fácil perspetivar o tipo e tom da mensagem transmitida digitalmente (férias = pés na praia com fundo de mar; dezembro = decorações de natal e maior volume de caixas de prendas; …). Mas será isto a realidade? Será isto que o consumidor realmente procura? Onde fica a realidade nesta complexa teia de ações digitais?
Chegamos a um ponto em que, enquanto marketers, temos de parar, desligar e procurar viver no analógico, para voltarmos a sentir o que é a realidade. O digital vai continuar a crescer, o comércio eletrónico vai ser cada vez mais a realidade do dia a dia das empresas, mas também temos de entender que o verdadeiro sentido da atividade de cada entidade é satisfazer as necessidades do consumidor, o qual, na verdade, só quer relacionar-se com os seus.