Américo Pinheiro
Diretor das Filiais Europa e América Latina da LVMH Fragrance Brands
Estou fora de Portugal há mais tempo do que me recordo. Viver num pais estrangeiro, viajar demasiado e ter decisões difíceis a tomar faz-te pensar donde vens, quem és, e quem queres ser.
A minha família, a minha terra, o meu país, são grande parte da resposta. Os nossos filhos, que praticamente não viveram em Portugal e que se sentem totalmente portugueses (não me perguntem como) sabem isso ainda melhor, chama-se sobrevivência. Uma vez, O João, teria uns 6 anos, brincava na praia com uma criança espanhola. Os pais da criança apercebendo-se que não era espanhol, perguntam-lhe : “¿Donde és?”. O João esticou o dedo e apontou na nossa direção – “Sou dali”.
E eu, que vejo o cartesiano quadrado francês, o sentido prático inglês, o positivismo espanhol, o apreciador belga, a doce rudeza russa, o calor ucraniano, o musical brasileiro, o intelectual argentino… tenho dificuldades em definir este devir português.
Não é, com certeza, desta vileza de discursar numa língua estrangeira para portugueses. Nenhum povo no mundo se envergonha com esta facilidade. Nem será, tampouco, destes discursos pseudo – inteligentes – tecnocráticos – rebuscados – que – ninguém – entende, ninguém no mundo os aceita. Nem será desta discussão orçamental, que desperdiça palavras a rodos e esquece uma questão central dos nossos próximos 30 anos: a demografia. Nunca será destas entidades – demasiado – grandes – para – cair – ninguém – percebe – o – que – lá – se – passa, mas – deixa – estar – e – não – faças – ondas – outro – fechará – a – porta.
Estaremos talvez do lado dos bons geringonceiros, de olhar sábio e escorreito, e que vêm mais longe (até sabem que “a cavalo dado não se olha ao dente” é a maior mentira e desgraça do Portugal moderno). Estaremos do lado da simpatia, calor humano, da diversidade e do caos refrescante. Dos que não têm forma errada ou envergonhada de ser autêntico.
Haverá muitos Portugais … é “daqui” que eu tenho orgulho de ser.

