José António Rousseau
Presidente do Fórum do Consumo
Estamos convencidos que nos próximos dez anos haverá mais mudanças no comércio retalhista e no consumo em geral, do que aquelas que aconteceram nos últimos cem anos. Daí que, e de um modo geral, todos tentamos olhar para o futuro e refletir na tentativa de conseguir definir as principais linhas da sua evolução nos próximos anos.
Porém, o futuro do retalho e do consumo é, naturalmente, incerto, e não dispondo de uma bola de cristal, a única certeza que temos é que a integração do retalho, da tecnologia, da criatividade e do estudo e compreensão do consumidor e das suas constantes mudanças, nunca foi, como hoje, tão intrincada e vital para o sucesso das empresas e da sociedade civil.
Ao longo de todo o desenvolvimento social e económico, as descobertas e invenções, quer incrementais quer revolucionárias, têm contribuído para este processo evolutivo, desde o autoconsumo do homem das cavernas até às compras pela internet. Em certos períodos, essa evolução tem sido lenta e metódica, outras vezes desconfortavelmente rápida, como aliás é o caso dos nossos dias. Mudanças no cenário comercial ao longo dos últimos 150 anos, por exemplo, têm sido mais transformadoras e disruptivas, do que durante os anteriores 1500 anos! Mas rápido ou lento, este processo de mudança é inexorável e evidenciado desde o início da humanidade, por cinco longos períodos bem definidos e característicos.
Por outro lado, se o desenvolvimento sustentável é aquele que dá resposta às necessidades do presente, sem comprometer as gerações futuras, o consumo sustentável será aquele em que o uso de bens e serviços que atendem às necessidades básicas e promovem uma melhor qualidade de vida, contribui também para minimizar o uso de recursos naturais e emissões de resíduos tóxicos e poluentes, não comprometendo as necessidades das futuras gerações (Oslo 1994).
Daí que, o consumo consciente, sendo um conceito mais abrangente e mais implicado com o consumo de bens e serviços não ligados às grandes fontes energéticas e recursos naturais, tais como a água, a energia elétrica e eólica ou os combustíveis, relaciona-se de uma forma mais direta com a generalidade dos consumidores e com os fast moving consumer goods, que tão bem conhecemos e todos os dias consumimos.
Compreender como o consumo consciente, nas suas diversas vertentes de consumo sustentável, solidário, saudável e responsável é percepcionado pelos consumidores e quais as relações entre si estabelecidas, qual a importância que lhe é atribuida e quais as dimensões em que o consumo consciente tem mais impacto, são alguns dos grandes objectivos do Fórum do Consumo.
Na sociedade atual não nos apercebemos ou não queremos mesmo saber dos processos subjacentes a cada produto que consumimos e, geralmente, adotamos uma atitude de indiferença em relação à forma como se produzem e comercializam os bens de consumo desde que consigamos possuí-los.
Não conhecemos os verdadeiros impactes dos produtos que compramos, nem sequer temos consciência que não sabemos. Ora, não saber aquilo em que não se repara é a verdadeira essência da ilusão. E nós não queremos andar iludidos acerca de nada e queremos ser esclarecidos sobre tudo.
Vivemos, como afirma Bauman, numa sociedade líquida, em que as condições de atuação dos seus membros mudam antes que as formas de atuar se consolidem, pelo que olhamos o mundo, e todos os seus aspetos, como objetos de consumo. Ao mesmo tempo respiramos, nas palavras de Michaud, num estado gasoso de perceções evaporadas, de atmosferas sem contornos, da exaltação das perceções e do multissensorial.
Por isso, não possuímos uma visão sistémica do consumo e consideramos os vulgares atos de consumo como individuais e egoístas, destinados apenas a suprir necessidades de diversa ordem. Tal visão redentora não é a do Fórum do Consumo pelo que pretendemos trabalhar para elevar o consumo ao nível que ele justifica e merece, como maior fenómeno económico da humanidade e motor inquestionável da economia e da qualidade de vida.
Estamos convencidos que, sem correr o risco de sermos considerados tolos e não obstante os graves problemas que hoje todos enfrentamos, podemos estar otimistas face ao futuro porque, como sempre aconteceu ao longo dos séculos, a humanidade conseguiu sempre encontrar as soluções para os problemas que o mundo em cada época enfrentou.
O grande erro dos pessimistas crónicos é pensar que os problemas do amanhã se resolverão à luz das soluções de hoje, mas o amanhã trará novas soluções para esses problemas, como sempre aconteceu no passado.
Porém, uma coisa é certa! Aconteça o que acontecer, haverá sempre consumo porque o consumo é tudo e tudo é consumo.