Por: José António Rousseau
Ascensão e queda de um super-vendedor? Anatomia de mil golpes sujos? Escola de vendedores? Diário de um ladrão? Sexo, drogas e dinheiro?
Todos estes títulos poderiam ser interessantes e verdadeiros para um filme de Martin Scorsese recentemente exibido em Portugal.
A partir da biografia de uma personagem real, o corretor nova-iorquino Jordan Belford, o filme retrata em tom trágico-cómico o percurso de um sedutor nato, um vendedor inspirado e um verdadeiro líder, mas um homem também obcecado pelo dinheiro que não olhava aos meios fraudulentos que usava para atingir o fim de ser rico.
O filme chama-se «O Lobo de Wall Street» e, de facto, aquilo a que assistimos é ao apetite voraz de uma fera predadora a destruir a vida dos cordeirinhos que se deixam enganar pela conversa mole de um super-burlão.
Porque é disso que se trata: uma sucessão avassaladora de burlas, mentiras, enganos, crimes, no fundo verdadeiros assaltos à mão armada mas sem armas, só com palavras, e sem olhar a quem nem poupando ninguém.
A cena que melhor espelha a falta de respeito e consideração que Belford tinha pelos seus clientes é aquela em que ele, na oficina velha que fazia de escritório, ensinava aos seus primeiros colaboradores as técnicas intrusivas e agressivas de venda, através de uma conversa telefónica com alguém que se ia deixando enredar naquela teia manipuladora, constituindo-se mais como vítima do que como cliente.
Nesse diálogo mantido em alta voz, e perante o ar divertido da sua espantada e fascinada pequena audiência, Belford ia mimando a evolução da conversa como se de uma relação sexual se tratasse, até chegar ao orgasmo final com o fecho do negócio bem ilustrado por fortes movimentos pélvicos e esgares de prazer. A grande lição estava dada e era como se ele dissesse: «Vejam bem como já fodi este gajo!»
E era exatamente isso que acontecia. Belford não vendia nada aos seus clientes porque os «fodia» a todos num ato animal que não só lhe dava imenso prazer como também o enriquecia.
Belford fazia aos seus alegados clientes o mesmo que fazia às prostitutas com quem todas as noites saía, sozinho ou com os seus sócios e amigos para se embriagarem em orgias de sexo, droga e dinheiro, desconhecendo-se em qual destas adições era mais viciado.
Na última cena, depois de sair da prisão onde passou apenas escassos anos por ter confessado os seus crimes e denunciado os amigos e comparsas, Belford começa a dar conferências e formação em vendas, onde exibe uma simples caneta e vai perguntando a elementos da audiência qual deles lhe consegue vender aquela caneta.
De um modo geral, os interpelados balbuciam alguns argumentos de venda, mas nenhum corresponde ao certo, todos passam ao lado daquele que efetivamente interessa usar para obter êxito e que, neste caso, consiste na pergunta que gera a necessidade, simples e básica mas que a maior parte dos vendedores parece esquecer: Pode escrever o meu nome, por favor?