Por: João Catalão
“Um diamante é um pedaço de carvão que teve sucesso sob pressão.”
Um dos “defeitos” mais comuns da nossa Sociedade é a reacção que o ser humano possui ao ser confrontado com o Não!
Negarem-nos algo é, para nós, algo que parece “contra natura”.
Porque será?
Fui tentar encontrar uma possível explicação nas primeiras atitudes que desenvolvemos na infância. Conclui: efectivamente, a maior parte de nós cresceu a ouvir milhares e milhares de; “não faças isto…”; “não vás por…”; “não podes…”; “não…”, etc.
Na Escola fomos avaliados pelo “Sabes” (bom) ou pelo “Não sabes” (mau).
Os nossos padrões de conduta foram sendo definidos através do que era suposto poder ser feito (sins), ou do que NÃO deveria ser feito…
O NÃO foi-se assumindo na nossa vida como algo limitativo, castrante e indesejável.
Com a chegada à idade adulta e o reforço natural de responsabilidades e compromissos, para muita gente torna-se cada vez mais difícil dizer NÃO.
O contexto familiar e profissional depende, muitas vezes, da “sorte” em não ter que dizer NÃO aos que nos rodeiam, seguem ou nos lideram.
A “antipatia social” pelo NÃO acentua-se quando, por timidez, comodidade ou “forma de estar na vida”, adquirimos uma tendência exagerada de “fugir ao NÃO”, convertendo essa tendência num hábito a que nos sentimos incapazes de escapar.
Devemos diferenciar entre o contrariar os nossos interlocutores “por sistema” e o não coincidirmos em opiniões, propostas e outros.
Em primeiro lugar devemos ter atenção a alguns pontos prévios:
- Quando queremos dizer NÃO e dizemos SIM, o nosso SIM sai desvalorizado. Perde autenticidade, perde valor. Pode ter sido positivo para o nosso interlocutor, mas vai decerto deixar marcas em nós próprios;
- Quando um não quer, dois NÃO brigam! Esta simples frase quer dizer que é fundamental estudar o MOMENTO! Muitos dos nossos falsos SINS resultam duma má gestão do Reagimos à pressão emocional da outra parte, em vez de gerirmos o MOMENTO de forma inteligente.

Neste contexto, habilidades naturais como o bom senso (dom da oportunidade) e o domínio de competências ao nível da linguagem verbal e gestual, devem interligar-se com uma boa gestão das emoções, da tolerância e da empatia. É também um facto que é mais fácil dizer-se NÃO às pessoas que possuem essas competências e talentos naturais.
As pessoas menos atentas a este fenómeno “natural” da dificuldade de dizer NÃO precisam de muito maior esforço e têm, por vezes, problemas de auto-estima. Essas pessoas, frequentemente, prejudicam-se voluntariamente porque NÃO são capazes de alterar a sua forma de agir. Para agravar, essas pessoas muitas vezes acabam por transmitir aos outros uma imagem pouco abonatória do seu carácter. Em contrapartida, o “mecanismo” de defesa dessas pessoas passa, regra geral, por se “auto-considerarem” como “generosas e altruístas” e em julgarem os outros como “egoístas”!
Possuir carácter significa possuir a paixão de sermos nós próprios. Um relógio não é perfeito quando trabalha rápido, mas sim quando trabalha certo.
Porque temos então medo de dizer NÃO?
Um facto: a timidez e a baixa auto-estima são algumas das questões comuns a quem tem dificuldade de dizer NÃO.
Podemos até considerar “humano” o desconforto que vivemos quando sentimos que o nosso NÃO poderá defraudar as expectativas da outra parte. Podemos também considerar que dizer SIM é “politicamente mais correcto”, mais “fácil” ou mais “cómodo”…
É “normal” que todos nos queiramos sentir valorizados e admirados. Temos essa necessidade de retorno dos outros em relação aos nossos comportamentos e às nossas decisões. Essa “dependência” também pode dificultar a liberdade de sermos autênticos, prejudicando assim o exercício de responsabilidades pessoais e colectivas.
“Estou firmemente convencido que só se perde a liberdade por culpa da própria fraqueza.”
Mahatma Gandhi

Que fazer?
Como a comunicação é o maior obstáculo à eficácia do ser humano e porque tenho consciência de que nunca aprendi nada na minha vida através das pessoas que comigo concordam, partilho com os leitores da Sá Magazine, algumas estratégias para se saber dizer NÃO quando é necessário dizê-lo, sem contudo criarmos rupturas de relacionamento pessoal ou profissional.
USE A FORÇA DO SIM
Regra:
O segredo das relações profissionais e pessoais está na CONFIANÇA!
A CONFIANÇA fortalece-se quando o diálogo e as interacções não se apoiam em falsos SINS.
Técnica:
Saber dizer NÃO através do SIM:
- Seja autêntico;
- Seja empático e mostre que compreende o ponto de vista do seu interlocutor;
- Proporcione alternativas ao seu interlocutor;
- Exponha e defenda os seus argumentos com convicção e através de factos;
- Demonstre que é uma pessoa que sente, pensa e possui critérios justos nas suas decisões;
- Peça feedback ao seu interlocutor.
Abençoado aquele cuja fama não brilha mais que a sua verdade.
Lembre-se que:
Dar, de forma adequada, prioridade às suas necessidades, opiniões e desejos não é uma manifestação de egoísmo, mas sim um sinal evidente de responsabilidade e maturidade.
Ser justo depende, muitas vezes, da capacidade de se saber decidir em função de critérios objectivos.
Muitas vezes o respeito que os outros nos têm resulta do facto de observarem o nosso compromisso de sinceridade, respeito, responsabilidade e autenticidade para com os demais.
Quem exerce o seu direito de dizer NÃO também pode ambicionar que os outros possam fazer o mesmo, favorecendo assim o desenvolvimento da relação assente numa comunicação mais objectiva e verdadeira.