Por: João Faria
Atualmente é constante ouvir-se falar em internacionalização, necessidade de crescimento, ir para fora, expandir, exportar, mas será verdade que a internacionalização ou exportação sejam o caminho? E se for, estarão as organizações preparadas para tal? Terão maturidade? A sua oferta de produtos/serviços é diferenciadora a ponto de conquistar novos mercados? O mercado de origem já está saturado, e estável? Há politicas internas de desenvolvimento de produto? Haverá resiliência, financeira e mental para enfrentar os desafios?
Estas são algumas das questões que se levantam ou devem levantar quando uma organização pensa em expandir a sua atividade para além fronteiras.
Há ainda que perceber a diferença intrínseca e profunda entre internacionalizar e exportar.
O crescimento de uma empresa é natural e expectável, mas deverá ser acarinhado, cultivado e ser estudado. A sua preparação e planeamento devem ser uma constante.
Assim sendo, é necessário que estejam reunidas várias condições e ferramentas antes de se encetar um processo de internacionalização. Pois, este deverá ser o corolário do crescimento orgânico da empresa, devendo surgir naturalmente. Acelerar, pressionar ou internacionalizar por moda, porque todos o estão a fazer, ou por desespero é algo a evitar e é uma receita para o falhanço.
Basear o crescimento internacional em case studies, histórias de sucesso, missões empresariais ou subsídios/incentivos também poderá ser uma receita para o insucesso.
O crescimento de uma organização especialmente a internacionalização ou exportação precisam de ser apadrinhadas ao mais alto nível, e devem ter receptividade por parte de toda a organização.
Há que ter presente as diversas vertentes associadas à internacionalização, para tal considero que há um conjunto restrito de questões que devem ser colocadas internamente e discutidas internamente:
Porquê Internacionalizar?
A maioria das organizações não sabe responder a esta questão. E é essencial para o sucesso deste desafio.
Quais os mercados?
A escolha do mercado ou mercados alvo é fundamental e para isso, é necessário ter um conhecimento profundo dos mesmos.
Como abordar um Mercado?
A identificação das ferramentas/mecanismos disponíveis não é garante de sucesso, mas é de extrema importância.
Devemos ir sozinhos ou precisamos de parcerias?
A identificação da oferta no mercado, dos players, e da nossa mais valia é um dos pilares para que possamos decidir se precisamos de uma parceria ou se temos condições de ser bem-sucedidos apenas pelo nosso valor e pela nossa oferta.
Qual a nossa resiliência financeira?
Saber quanto tempo e dinheiro podemos apostar ou esperar até termos negócio, ou mudarmos de estratégia é algo que deverá ter presente para que seja possível gerir expectativas.
Quais as políticas de desenvolvimento de negócio?
Vamos ter equipa dedicada? Equipa local? Qual a sua autonomia? Qual o seu interface com a sede?
Estas e muitas outras questões a este nível têm extrema importância para a criação de uma equipa unida e focada no sucesso.
Com gerir os expatriados?
Os expatriados trazem uma complexidade adicional para o seio da organização, podendo destabilizar a harmonia interna da organização. Pelo que há ter quer cuidados adicionais na seleção, criação e gestão de expatriados.
Para além destas, considero haver mais 3 ou 4 questões que devem integrar a análise interna de qualquer organização quando esta começa a pensar na internacionalização.
Há ainda que ter presente que todo este processo é altamente emocional, pois mexe com todo o status quo e é altamente disruptivo.
Face a isto, há um conjunto de passos a dar antes de decidir ou avançar:
– Visitar os mercados em questão;
– Tentar assistir ao maior número de eventos sobre o tema e mercado (seminários, workshops, congressos,…);
– Abordar abertamente o tema com outros players no mercado (Câmaras de Comércio, Concorrentes, parceiros, organismos do Estado,…);
– Identificar um parceiro com experiência e sem ligações emocionais à organização para que possa ajudar ou liderar o processo de análise interna e apoiar a criação de ferramentas que potenciem o sucesso da Internacionalização.
Face ao exposto, perante organizações que não fazem a devida ponderação do PARA QUÊ e do processo de internacionalização, eu reajo “Internacionalizar?!? Really??”